quarta-feira, 2 de julho de 2014

Definharia sobre seu próprio medo
não fosse sua incapacidade de mover-se adiante
olhares repugnantes e sorrisos falsos
estrada para o fim.

O grand finale estava por vir
não obstante, o fim atrasou
o ponteiro tardava
e as mãos ensanguentadas
caíram ao lado do corpo imóvel,
cansadas de mais para finalizar o que haviam começado.

As luzes lá fora tremulavam,
prontas para mais uma rodada.

sábado, 7 de junho de 2014

Just

Hoje bateu uma saudade. Saudade do que poderia ter sido, saudade do futuro. Saudade do seu cheiro, do seu colo. Saudade do seu boa noite. Hoje bateu uma saudade de te esperar e correr pra abraçar. Saudade dos seus olhos verdes. Saudade de assistir filme no seu colo e fingir que dormia só pra me carregar e colocar pra dormir. Saudade da infância, dos elogios. Saudade de fazer pequenas coisas e arrancar um sorriso fácil e sincero. Saudade de ser orgulho, de ser o que esperavam. Hoje bateu uma saudade do sermão, do parabéns. Saudade do riso, saudade do abraço. Bateu saudade. Bateu saudade de não ter que sentir saudade.

domingo, 30 de março de 2014

- Eu sei como você sente falta de Elizabeth.
- Sinto falta dela o tempo todo. Na minha cabeça, sei que ela partiu, mas ainda continuo procurando. A única diferença é que estou me acostumando à dor. É como descobrir um buraco enorme no chão. No começo, você esquece que ele está lá e fica caindo dentro. Depois de um tempo, o buraco ainda está lá, mas você aprende a dar a volta por ele.


Rachel Joyce - A improvável jornada de Harold Fry.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

"E um dia, olham ao redor e percebem que todos os seus amigos e familiares se foram, que estão lutando ao lado de estranhos, sob um estandarte que quase nem reconhecem. Não sabem onde estão nem como voltar para casa, e o senhor por quem combatem não sabe seus nomes, mas li vem ele, gritando-lhes para se posicionarem, para fazerem uma fileira com as lanças, foices e enxadas afiadas, para aguentarem. E os cavaleiros caem sobre eles, homem sem rosto vestidos de aço, e o trovão de ferro de seu ataque parece encher o mundo... E o homem quebra. Vira-se e foge, ou rasteja para longe, depois por cima dos cadáveres, ou escapole na calada da noite e encontra um lugar qualquer para se esconder. Toda noção de casa está perdida a essa altura, e reis, senhores e deuses significam menos para ele do que um naco de carne estragada que lhes permita sobreviver mais um dia, ou um odre de vinho ruim que possa afogar-lhe o medo durante algumas horas. O desertor sobrevive dia a dia, de refeição em refeição, mais animal do que homem."

George R. R. Martin - O Festim Dos Corvos

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Insignificâncias que realmente importam

Certa necessidade impertinente do cheiro de um livro novo. Ou quem sabe uma estante nova. Talvez, um quarto novo. Aquele momento no qual os pés não tocam mais o chão. O momento em que não vemos direção. Balbuciamos palavras sem sentido. Um desejo de começar de novo. Um desejo clichê e prático como o verbo to be: um desejo de ser e estar.

sábado, 21 de setembro de 2013

Praticamente Indefectível

Não tinha certeza sobre o que nele a conquistou. Talvez fosse seu corpo bonito. Talvez fossem seus olhos perdidos e misteriosos. Talvez fosse a sua barba por fazer que o tinha deixado mais sedutor. Ou quem sabe tenha sido seus gostos e costumes que a tenham atraído. Quem sabe sua intelectualidade ou sua tranquilidade. Quem sabe o seu estereótipo de galã americano. Ou ainda, quem sabe, seu jeito aleatório, seu olhar estranho ou seus pensamentos firmes.
Mas, talvez, o problema tenha sido apenas ela mesma.